Euler Sandeville Jr.
São Paulo, primeira versão em 28 de abril de 2016
Redação atual em 14 de dezembro de 2018
1. a Bíblia é a Palavra de Deus
Se você não está muito familiarizado com a Bíblia (do grego βιβλία, plural de βιβλίον, transl. bíblion, “rolo” ou “livro”), é importante entender que para os cristãos é a Palavra de Deus. Essa coleção de livros sagrados forma para nós um único livro, através do qual conhecemos a Deus, Sua vontade, e pelo Seu Espírito Santo somos edificados e vivificados para a comunhão com Ele, sua adoração, seu serviço. Esta é a nossa alegria.
Esse conjunto de livros está dividido em duas coleções, que se referem basicamente a duas Alianças de Deus com os homens. A essas coleções normalmente denominamos como Antigo e Novo Testamentos. O Antigo Testamento são as Escrituras sagradas dos judeus (ou hebreus), que os cristãos também creem inspiradas por Deus. O Novo são um conjunto de escritos realizados algumas décadas depois da morte e ressurreição de Jesus.
A palavra Testamento talvez não seja a melhor para dizer a que se referem esses livros, que eram chamados pelos antigos como Escrituras. São na verdade duas Alianças recentes de Deus com a humanidade, a Lei dada a Moisés no Sinai, e a redenção dos pecados dada por Deus através da morte e ressurreição de Jesus. Por isso, neste sítio, por vezes irei utilizar a palavra Aliança, como Jesus disse na páscoa, antes de ser oferecido para remissão de nossos pecados (a palavra pacto também é traduzida como aliança):
A carta aos Hebreus deixa mais claro isso. Nela, o que lemos no Antigo Testamento é chamado de Primeira Aliança, e o que nos apresenta o Novo Testamento é chamado de Nova Aliança. O que define essas Alianças? Simples: atos de Deus.
2. as duas Alianças
Ao ler os livros referentes à Antiga e à Nova Aliança, ou trechos deles, é ainda importante que se entenda que um longo período de tempo as separa, por vezes, um milênio ou mais. Foi escrita por cerca de 40 autores, entre 1500 e 450 a.C. (os livros da Primeira Aliança) e entre 45 e 90 d.C. (os livros da Nova Aliança).
O Antigo Testamento (a Primeira Aliança) refere-se aos ensinamentos de Deus que foram confiados aos hebreus e de como deveriam proceder até à vinda do Messias (que significa Ungido, que em grego se traduz como Cristo), através de quem se cumprem as promessas feitas a Abraão de que de sua descendência seriam abençoadas todas as nações da terra. Os judeus creem que Jesus não foi o Messias, o ungido, e ainda esperam que venha; os cristão creem que Jesus é o Cristo, e aguardam sua volta que, para ambos, marca o fim dos tempos como os conhecemos. Há nesses livros alguns trechos de difícil compreensão, porque foram progressivamente escritos entre 1.500 (ou 1.200) e 400 antes de Cristo, ou seja, cerca de até 3.500 anos atrás, eventualmente a partir de textos fragmentados ainda mais antigos, em épocas e contextos históricos e culturais muito diferentes dos nossos. No entanto, são essenciais para nossa instrução no caminho de Deus.
A Primeira Aliança é inaugurada de modo nítido após o Êxodo, quando no Sinai Moisés recebe a Lei de Deus, os modelos celestiais de como deve ser o culto, e como devem ser os sacrifícios pelo pecado no vigor dessa Primeira Aliança. Na verdade, ela começa um pouco antes, nas promessas de Deus a Abraão, e na instituição da circuncisão, e mesmo antes. De certo modo, as duas Alianças já estão anunciadas nas promessas proféticas feitas desde Adão.
Os livros que estabelecem essa primeira Aliança são chamados de Pentateuco (cinco livros), a Torá dos judeus. O livro do Gênesis trata dessa primeira parte das promessas e nos conta a criação do mundo, a promessa feita a Abraão (provavelmente cerca de 2.000 a 1.800 antes de Cristo), até a história de José. Os demais quatro livros do Êxodo a Deuteronômio, tratam da Lei desde o seu recebimento (entre cerca de 1.500 e 1.200 antes de Cristo) narrado no livro do Êxodo, selando essa primeira Aliança, que haveria de vigorar até o sacrifício de Jesus, o Messias prometido.
A estes 5 livros seguem-se outros 34 livros (na organização cristã, ou na organização dos hebreus 19 livros, porque alguns estavam reunidos inicialmente em um único livro), com poesias, história, profecias, biografias e os ensinos de sabedoria. Esses livros narram a história da nação de Israel e Judá, a sabedoria e os cânticos, os julgamentos e redenções de Deus até o retorno do cativeiro (cerca de 430 antes de Cristo). São, portanto, 39 livros nas coleções cristãs (Antigo Testamento), correspondendo aos mesmos 24 das coleções judaicas (TaNaKh).
O que acontece após esse retorno e o nascimento do Cristo não é narrado nessas coleções ditas canônicas, configurando o chamado de período interbíblico, mas é narrado em livros chamados deutrerocanônicos, que não integram as Escrituras para judeus e protestantes, mas as integram na perspectiva católica e ortodoxa (explicaremos melhor essas diferenças em outros artigos desta seção).
A Nova Aliança é feita pelo sangue derramado de Jesus, tipificado nos sacrifícios da Primeira Aliança. Os livros da Nova Aliança são formados pelos quatro Evangelhos que narram a vida de Jesus e pelo livro de Atos, que narra o início da igreja, por diversas cartas, quase todas escritas pelos apóstolos, e pelo Apocalipse, que é um livro profético. Esses livros foram escritos aproximadamente entre 50 e 90 depois de Cristo. São 27 livros, todos escritos poucas décadas após a vida de Jesus descrita nos evangelhos.
O Novo Testamento (Nova Aliança) começa apresentando quem é Jesus e com o seu nascimento (por volta de 8 a 4 antes de Cristo), o Messias esperado, chamado no Antigo Testamento de “Deus Forte” e “Deus conosco”, segue apresentando seu ministério e se consuma com sua morte e ressurreição por volta do ano 30 depois de Cristo, na qual foi firmada a Nova Aliança.
O livro de Hebreus no trecho acima está citando profecias das Escrituras judaicas (nosso Antigo Testamento), indicando que haveria uma Nova Aliança, e que esta permaneceria para sempre, porque os pecados seriam removidos. Qual a base dessa Nova Alainça? Ainda lemos na carta aos Hebreus:
Os livros da Nova Aliança não revogam o sentido espiritual das coisas antes reveladas, ao contrário as transbordam e apresentam os preceitos de como devemos aguardar até sua volta, quando todas as coisas serão enfim consumadas. Só então todos estaremos diante de Deus, e não haverá mais a representação das coisas celestiais na Terra; cada um será julgado conforme seu coração e suas obras. Apesar de continuarem na terra as sombras das coisas espirituais, o cristão na Nova Aliança já não se move por elas (ou não deveria), porque é um peregrino em direção a uma cidade e a uma pátria futura, que não está aqui nem se rege pelas práticas atuais, cujo estatuto é o evangelho da paz em Cristo e a adoração e o perdão devem ser buscados na intimidade com Deus:
É essa a condição implicada na Nova Aliança, uma realidade espiritual nova que significa um novo nascimento, a vida eterna em Deus. Essa condição de superação dos antigos símbolos, dos lugares e dos ritos como expressão espiritual que é da natureza da Nova Aliança é o que refere Jesus, ao falar das revelações de Deus recebidas pelos judeus e seu transbordamento para uma nova aliança, que, veja bem, não se expressa mais nos ritos, lugares, símbolos e leis, mas na comunhão espiritual:
A redenção de Deus proporcionada em Jesus por sua morte e ressurreição é o perdão dos pecados e a libertação da morte e da condenação, e ainda mais. É o único caminho para que aquele que ama e escolhe servir a Deus possa na consumação dos tempos estar em sua Santa presença.